samedi 29 mars 2014

Meu avô se chamava Brasil.


Meu avô se chamava Brasil. Das diversas coisas que pude ter o privilégio de aprender com ele, talvez a que mais me marcou foi a lição democrática da cidadania. E esse aprendizado não foi deliberado mas indireto, naquilo que ele dizia e sobretudo na maneira com que ele se manifestava.

Meu avô era ateu, médico e membro do Partido Comunista Brasileiro. Trabalhou como pediatra mas também foi médico de sindicato.

Pouco sei daquilo que foi o passado dele, durante os anos 30. Mas me lembro claramente vê-lo chorando ao ver uma entrevista de Luís Carlos Prestes na TV Manchete no final dos anos 80. Foi a primeira vez que o vi chorando, muito. A outra, foi numa visita em BH, já' bem idoso, vendo uma foto de uma das filhas que ele infelizmente viu partir.

Era uma pessoa da mais calmas, coerentes e extremamente equilibrado. E era querido de todos, inclusive pela minha avo', pessoa extremamente religiosa e extremamente intensa. Era o seu contraponto. E ele era carinhoso sem ser piegas.

Eu o vi também perder claramente a paciência uma única vez e dizer uma sucessão de palavrões diante da TV, diante da Rede Globo ao passar a famosa declaração do General Ditador Figueiredo, aquela do "Quero que me esqueçam". Não foi só' o fato de entender uma pessoa tão calma perder as estribeiras: havia algo mais ali, algo que escondia uma dor, um lamento, algo como "não, não da' para esquecer".

Sei que meu avô escapou por pouco de "sabe se lá o quê". Quando a lista das pessoas "fichadas" no DOPS apareceu anos atrás na Internet, vi o nome dele, completo assim como o nome do irmão dele. O cunhado dele, irmão da minha avo', delegado, por sorte conseguiu tirar o nome de uma das tais "listas quentes". Era a parte ultracatólica da família, dessas que chegava a ser racista e limitada, mostrando que também tinham um lado extremamente humano do qual eu fui testemunha durante toda a minha vida. Mais outra lição: os laços familiares podem ser muito mais fortes que orientações políticas ou religiosas. A sorte que ele teve outros não tiveram. Não, ele definitivamente não fazia o tipo “luta armada” ,mesmo porque ele não acreditava em guerras.

Não há' como achar os governos militares como "aceitáveis". Não ha' como comemorar os tantos anos de atraso, de censura, de cala a boca, de desaparecimentos, de vidas interrompidas, de famílias separadas e de tortura. Essa ferida é aberta e não vai fechar com um esquecimento. 

Meu avô morreu ao lado dos filhos e dos netos que tinham adoração por ele. Aquilo que foi muito doloroso no momento hoje eu tenho como uma recordação muito especial: algumas horas antes de morrer, ele sorriu para mim.

Acho que ele poderia até estar insatisfeito com muitas coisas dos últimos governantes que passaram democraticamente pelo poder. Tenho porém certeza que ele jamais aceitaria essa onda de revisionismo dizendo que não era tão ruim. Por ele, por este sorriso, não devemos nunca esquecer o horror que foi ditadura e não devemos compactuar com o triste cinquentenário do golpe.

Meu avô se chamava Dr. Brasil Carvalho Ferreira. Morreu depois de sorrir, com a esperança que um dia o pais faça jus ao seu nome e a pessoa que ele foi.

lundi 15 avril 2013

Telhado de Vidro, Olivier, Telhado de Vidro!

Essas são as minhas observações nada exageradas da vida na França. Nada muito sério....
  1. Aqui na França, toma-se banho sim. Talvez um pouco menos no inverno mas isso não deve ser pretexto para falar mal dos franceses.
  2. Aqui na França todo mundo se organiza em filas mas o esporte nacional é arrumar um pretexto para furar a fila. O pior é que os que furam ficam com aquela pinta de inocente, como se não tivessem se dado conta da quantidade de gente vindo atrás.
  3. Aqui na França, o ano começa mesmo depois das férias de verão, quer dizer, em setembro. Entre julho e agosto até os mendigos tiram férias.
  4. Aqui na França, padeiro toca nos pães, tortas e croissants com as mãos. E toca também no dinheiro, por tabela. Não, saco de pão é reservado a quantidades de pães consequentes. Uma baguette vem enrolada no meio com um desses guardanapos brasileiros que não servem de nada. Você tem enquanto cliente alguns centímetros quadrados para não encostar no pão. E ninguém morre por isso (mas de tempos em tempos tem epidemia de gastroenterite. Porque sera’?)
  5. Aqui na França, todo brasileiro é gay (ou pior, “pederasta”) por excelência. Falar com sotaque brasileiro é gay, dizer que vem do Brasil é gay. Na cabeça dos franceses, não ha’ pais mais gay que o Brasil. Isso porque os primeiros travestis que chegaram na França eram efetivamente oriundos do Brasil. E por falar em gay, tanta tolerância na França mas foi so’ falar em casamento gay que boa parte da população saiu nas ruas para protestar. CONTRA.
  6. Aqui na França, alguns homens fazem tarefas do dia a dia até encontrarem uma esposa para se casar. Fica muitas vezes sobreintendido que uma vez casado e com filhos, cabe a mulher de diminuir as horas de trabalho para cuidar da prole. E’ um tal de não trabalhar na quarta feira (aqui na França, não tem aulas na quarta feira mas tem no sábado pela manhã). A França e’ sim por excelência machista, ja’ que os homens ganham muito mais que as mulheres em posições idênticas, salvo no caso do funcionalismo publico (e mesmo ai, pode ter diferenças escondidinhas). No mais, égalité para todo mundo – acho que fui criado também num mundo diferente.
  7. Aqui na França; sinais exteriores de riqueza significam que você fez algo muito desonesto ou então que tem mal gosto. Lembremos que foram os franceses que guilhotinaram a cabeça dos nobres. Ha’ sim um numero não negligenciável de piscinas publicas (com uma participação na entrada) onde pessoas de diversas origens se banham alegremente sem muito problema. Mas como todo mundo, os franceses adoram se sentir VIPs.
  8. Aqui na França, os casais quando brigam, brigam para valer, inclusive dentro do carro. Os homens consideram que as mulheres dirigem mal. As mulheres tambem consideram que as mulheres dirigem mal. Como no Brasil.
  9. Aqui na França, os homens  que se vestem bem tentam esconder alguma coisa ou querem chamar atenção. Muitos deles capricham nos trajes para impressionar as garotas. No serviço publico (33% da populacao ativa é de funcionarios publicos, um record) todo mundo se veste muitissimo mal e não estão nem ai.
  10. Aqui na França, o cliente tem que implorar para ser servido. E geralmente, os garçons são extremamente deselegantes sim. Na verdade é como se estivessem fazendo favor de te servir. O relacionamento com garçons é que nem uma especie de guerra fria. Não me ameace que eu jogo uma bomba (nuclear) na tua mesa.
  11. Aqui na França, futebol so’ teve realmente importância depois que a França ganhou (uma unica vez) a copa do mundo em casa contra o Brasil. Eles celebram até hoje, apesar de terem perdido outra final para os italianos. Jogar uma pelada aqui é tarefa impossivel: para jogar pelada você tem que montar uma associação (outro habito local, associação para tudo), pagar uma cotisação, fazer uma assembléia com diagramas e redigir um estatuto dizendo que a bola é redonda pois existem bolas ovais para jogar rugby.  
  12. Aqui na França, sempre tem um reality show. Para tudo.
  13. Aqui na França, a vida vai também devagar. Qualquer grande projeto de grande envergadura não avança, muito antes pelo contrario – horas e mais horas são reservadas à planificação mas finalmente, todas as datas limites não são respeitadas. Em cidades como Paris, Lyon ou Marsleha é absolutamente normal ficar preso no trânsito. E nas vias rapidas (chamadas de Boulevards Perifericos, especies de aneis rodoviarios que so’ circulam bem pela noite). As filas do supermercado sao porem rapidas e eficazes. Mas muitos dos franceses tratam as caixas registradoras como subpessoas e ficam bufando nas filas com os carrinhos cheios de macarrão e molho bolonhesa ja’ preparado.  E’ absolutamente normal bufar quando uma gravida ou pessoa idosa pede prioridade nos caixas. Alias, os franceses estão sempre com pressa. Parece brincadeira mas e’ uma pressa para chegar à lugar algum.
  14. Aqui na França, os chineses e japoneses são turistas, presas faceis para trombadinhas em Paris. E os Brasileiros são efeminados, morenos, jogadores de futebol. As brasileiras saem nas ruas com plumas na cabeça e biquini fio dental. E SAMBA e’ uma palavra feminana: La Samba. Va entender.
  15. Aqui na França, todos acham que a musica francesa é conhecida no resto do planeta. O probema é que salvo rarissimas excessoes (muitas delas pouco francesas como Aznavour que e’ de origem Armenia e salvo engano tem nacionalidade Suiça) NINGUEM conhece a tal “canção francesa” ou os artistas de variedades musicais mais populares. Não, Johnny Hallyday NAO FAZ um sucesso estrondoso na América do Sul, onde teoricamente ele não pode nem andar na rua. O mesmo vale para Bebel Gilberto na França: alem dos exilados, neonaturalizados e demais oriundos das pindoramas, ninguem conhece bem musica brasileira por aqui. E Michel Telo e Gusttavo Lima nao valem como exemplo
  16. Aqui na França, a direita esta’ a direita e a esquerda esta’ a esquerda. Existe um codigo de conduta segundo o partido que, caso nao devidamente obedecido, fulaninho acaba saindo pela tangente e formando um outro partido. Ha’ tambem extremos: extrema direita (com direito a partidos radicais em termos de como tratar imigrantes e ate’ mesmo revisionistas em relacao ao holocausto) e de extrema esquerda (como o meu preferido, Partido ANTI CAPITALISTA, que revela um espirito francês de ser do CONTRA – neste caso, contra o capitalismo mas nao sabemos bem ao certo a favor de que ou de quem esse partido esta’.). Apesar de tantos contrastes, os politicos mais proeminentes frequentaram todos A MESMA UNIVERSIDADE ou Escola de Governo!
  17. Na França, ser demitido de um emprego com o qual o empregado tem contrato estavel e’ tarefa quase impossivel. O sujeito tem que pisar muito na bola. Com isso, muitas vezes pessoas acabam sendo contratadas e ficam penduradas para todo sempre nos seus respectivos empregos, muitas das vezes em situacao dificil ou infeliz. Ganhar o salario minimo e’ normal na França tambem, o problema e’ sobreviver com ele. Tem uma diferença enorme entre pobres e ricos porém o discreto charme da burguesia francesa diz tudo: você não mostra, ou então tenta ostentar pouco.  As crianças francesas vão à escola publica que e’ um pilar neste pais. Porem, muitos pais atualmente tem pensado em colocar as crianças em escolas privadas onde ha’ menos mistura de origens, o que e’ lamentavel. A igreja na França não esta’ ominipresente, apesar do pais ter uma base catolica solida. Ai de voce se sugerir que festas de outras religioes sejam levadas em consideracao nos calendarios escolares e empresariais!
  18. Aqui na França, e’ comum ninguém bater na tua porta. Alias, e’ absolutamente comum nem saber quem sao os seus vizinhos.
  19. Aqui na França, a palavra “Désolé” significa sinto muito mas na verdade significa que não estou nem ai para teu problema e você trata de se virar. Proximo!
  20. Aqui na França, o clima é sempre horrivel. Os franceses nunca estão satisfeitos: se faz frio e neva, então esta’ frio demais... Se faz sol, então esta’ quente demais. E assim vamos. Trata-se de uma população absolutamente viciada em metereologia e assuntos afins. Os boletins são constantes na TV e quando as previsões falham, e’ como se o mundo estivesse acabando. Sair de ferias e não ter sol é motivo de depressão grave. E’ comum as lojas fecharem no domingo. E em algumas cidades, tudo fecha para almoço. Pior ainda: os horarios do serviços publicos parecem estar adaptados para que ninguem que trabalhe possa resolver algum problema. Para acertar papeis de um carro, muitas das vezes e’ necessario pedir meio dia de folga no trabalho.
  21. Aqui na França não tem novela, tem Reality Show. Que acaba quase que dando no mesmo. O cinema nacional e’ super valorizado (com subvencoes vindas da TV e do outros meios) apesar de que muitas das vezes a qualidade e’ duvidosa. Os franceses não deram muita trela para os dois ultimos atores oscarizados, diga se de passagem. Enquanto que no Brasil basta a gente ter alguem nomeado a um premio que todo mundo entra na torcida, na França a cerimonia e’ transmitida num canal a cabo Pay Per View.
  22. Aqui na França falta espaço. Alias, espaço e’ motivo de guerra nesse pais. E’ comum em grandes cidades pessoas morarem em habitaculos de 22 metros quadrados. As vezes ate’ mesmo familias inteiras em situacao extremamente precaria se amontoam em residencias do governo. Ha’ uma supervalorizacao do metro quadrado que atualmente e’ manipulada por grandes proprietarios ligados aos oligopolios petroleiros arabes ou entao as companhias de seguro. O pior ainda: Paris, onde as pessoas galeram horrores para poder comprar ou alugar algo correto (segundo os parametros franceses, logico), ha’ excedente de vivendas disponiveis. Isso porque muitos proprietarios preferem NAO ALUGAR o imovel, por medo de diversas coisas, dentre elas que a figura que entra nao pague corretamente o aluguel.  
  23. Aqui na França, e’ comum comer entrada, prato principal, salada, queijo e sobrmesa nessa ordem, quando se vai a um restaurante. Ja’ dentro das casas, e’ mais do que normal comer macarrao com maionese! Ou ovos cozidos com maionese! Os doces sao muito bons e bem preparados.
  24. Aqui na França o cafe’ e’ infecto. Eles tem mania de achar que porque com a maquina X ou entao com a capsula Y o cafe’ vai sair bom. Nao e’ o caso.
  25. Aqui na França, todo mundo vai para a Côte d’Azur durante as ferias de verao, lotar um monte de praia de agua quente e sem mar. Ha’ praias bonitas tambem na costa atlantica mas atencao, algumas delas sao praias de Cascalho Pedregulhoso.
  26. Aqui na França, outros esportes são levados tão a serio quanto o futebol, apesar desse ultimo movimentar mais grana.  Porem, os franceses tem um problema grave em relacao ao “importante e’ participar”. Aqui nao tem nada disso: o importante e’ ganhar a medalha de ouro. Na transmissao de jogos olimpicos, um esporte qualquer e’ seguido ate’ o momento que tem frances na competicao. E’ comum tambem dizer que um frances ganhou primeiro (ou segundo lugar) sem saber com quem o podium foi dividido.
  27. Aqui no França, as pessoas acham que mal humor e’ normal, que levar patada dos outros e’ normal tambem. Mas nunca vi um pais onde com um minimo de esforço as pessoas podem ser absolutamente charmosas, agradaveis e muito generosas.
  28. Aqui na França, esporte também requer toda uma gama de produtos. Para andar de bicicleta ha’ toda uma linha de produtos (muitas das vezes inuteis que nao sao ligados a segurança) ligados a pratica que caso voce nao tenha, vai acabar se sentindo excluido. E isso para todo esporte imaginavel (ate’ para andar a pe’ pelas matas e florestas). Esporte na frança e’ igual a equipamento. O que não e’ de todo mal.
  29. Aqui na França, existe um padrão de tomada unico (europeu) que os franceses acham ser o unico existente no mundo. Alias, o conceito de aparelho eletrodomestico bivolt lhes parece absolutamente bizarro.
  30. Aqui na França, não se assuste se teu filho estiver numa escola e somente alguns colegas de sala são convidados para o aniversario. Festa de aniversario e’ normalmente algo inexistente por aqui ou restrito ao ambito familiar. E olhe la’.
  31. Aqui na França, feijão e’ duro e não serve para comer com arroz. E abacates são servidos unicamente na salada. Uma vez eu pus açucar no abacate e um colega praticamente teve uma sincope. Alias, aqui na França os franceses ADORAM McDonalds, sobretudo num pais que despreza a cultura americana de comida, porde parecer um contrasenso. Mas não e’ -  Vai saber porque....
  32. Aqui na França, Deus esta’ pouco presente nas falas. Em contrapartida, a “Merda” e’ dita sem choro nem vela (merda aqui, merda acola’, bordel de merda, dentre outros palavroes pouco simpaticos). E quando algo e’ de fato muito chato, eles vao utilizar o termo “chiant” que vem do verbo cagar. Qualificar alguem de chato e’ qualificar alguem de cagado. Faz sentido.
  33. Aqui na França,  cada vez que ouço a palavra ‘tempête’, (tempestade)  tenho a impressão que uma tromba d’agua daquelas vai cair na minha cabeça. Ledo engano: trata-se de meia duzia de gotas pingadas....
  34.  Aqui na França, os vizinhos prezam pelo silencio. Se vai dar uma festa, e’ melhor avisar aos vizinhos e a partir das 10 da noite tme que abaixar o som. Pouco importa se seu time ganhou, se seu filho entrou para universidade ou entao se voce se casou. Incomodar um francês na sua intimidade e’ cutucar onça com a vara curta. E a policia pode baixar e ai complica muito a situacao.
  35. Aqui na França ha’ todo tipo de nome francês esquisito ou entao americanizado tambem: ha’ toda uma geração de Kevins, Brandons, Jennifers, etc. Porem, todos eles sao ditos com sotaque frances. Nao ha’, porem, a mesma criatividade dos nomes americanizados no Brasil.
  36. Aqui na França, não ha’ muita discussao na hora de comprar. Os preços que estao marcados sao definitivos. Porem, durante as liquidacoes (sem, elas existem e acontecem de maneira muito organizada – começam no mesmo dia, uma quarta feira, logico – e terminam no mesmo dia. No pais inteiro) os preços sao muito atraentes. Vale a pena esperar o natal passar.
  37. Aqui na França,  os homens não se abraçam quase nunca. Ha’ muitissimo pouco contato fisico entre homens e muitas das vezes isso e’ visto de maneira muito estranha. Porem, e’ absolutamente normal que amigos (homens ou mulheres) façam “a bise” depois de um certo tempo de amizade. O que significa que homens dao tres beijinhos em outros homens. E isso não e’ gay aqui.
  38. Aqui na França,  o polegar e’ sinal de pedir carona. E so’.
  39. Aqui na França, os filmes nos cinemas são todos dublados em francês. Ao ponto de que os atores mais conhecidos tem dubladores fixos. Filme legendado so’ em Paris e na metade dos cinemas. Discutir sobre o assunto e’ inutil: segundo consta, os franceses nao sao capazes de ler uma legenda ao mesmo tempo que vem um filme. Por isso eles preferem os dublados. Porem, ao contrario do Brasil, o cinema e’ acessivel as classes menos favorizadas tambem.
  40. Aqui na França tem todo uma formula ao falar com as pessoas. Ha’ que sempre dizer Bom Dia ou Adeus. Ai de você se esquece. Ha’ tambem uma diferença no uso dos pronomes que, de inicio, e’ bem complicada. A segunda pessoal do singular (tu) so’ e’ usada em casos de proximidade ou intimidade com o interlocutor. Senao, o uso formal e’ o da segunda pessoa do plural (vous – vos) mesmo se o interlocutor estiver sozinho. E’ assim e pronto.
  41. Aqui na França fazer um lanchinho implica em comer algo doce. Pode ser uma barra de chocolate ou entao biscoitinhos doces ou entao pain au chocolat. Pouco importa: o conceito de lanche salgado e’ desconhecido.
  42. Aqui na França, mas noticias escritas sao sempre acompanhadas de toda uma formula politicamente correta e sempre termina com uma formula pior ainda, do tipo, “Queira por gentiliza aceitar as  minhas saudacoes mais afetuosas”. Quando a formula nao e’ utilizada, e’ porque quem escreve esta’ pouco se lixando ou entao nao e’ muito amigo. Terminar algo com “cordialmente” pode ser muito mal sinal aqui na França.
  43. Aqui na França, telemarketing e’ chato demais. E normalmente, os pobres funcionarios trabalham em call centers em paises africanos superexplorados e com ditadores muito sanguinarios.
  44. Aqui na França, os franceses acham que Paris e’ o centro do Universo. Talvez os franceses nao tenham mesmo mania de grandeza mas tem um autoconceito muito elevado. A ponto de ignorar coisas obvias: por exemplo, a famosa nuvem de radiaçao de Chernobyl PAROU na fronteira da Alemanha com a Alsacia, segundo uma das maiores autoridades em segurança nuclear da epoca. Posto que ele falou, entao e’ verdade. CQD. Resultado: foi a piada da decada.
  45.  Aqui na França existe uma relacao mais ambigua e assimetrica ainda em relacao aos outros paises da Europa. Quando eles conseguem algo que os identifica e os distingue, e’ visto de maneira negativa, porque “nao e’ francesa”. Ja’ as distinçoes locais da França sao pouco valorizadas finalmente fora da França. Grande exemplo: o tal minitel, precursor da internet que não se desenvolveu fora da França justamente porque os franceses nao quiseram. Perderam o bonde da historia e chegaram com atraso na reovlucao web. Qauanto as viagens, os franceses se assutam quando ao visitarem certos paises as pessoas nao FALAM frances. E se frustram com isso, ja’ que esses paises deveriam aprender frances. Pior ainda: muitos franceses com pouco espirito autocritico aprendem mal ingles e acabam achando que falando ingles so’ que ninguem entende aquilo que eles estao falando. Mas isso felizmente tem mudado: os franceses a duras penas estao aprendendo a conviver melhor com vizinhos italianos, espanhois e sobretudo ingleses.  
  46. Aqui na França, os relacionamentos são pouco codificados. Então voce pode compartilhar anos a tua vida com alguem sem saber bem ao certo se e’ namoro ou amizade.
  47. Aqui na França, come se com pão. Inclusive arroz.
  48. Aqui na França, as pessoas dão a impressão de ser menos hospitaleiras do que parecem. A desconfiança e’ sempre maior no principio. Porem, em casos extremos, elas acabam se mostrando bem solidarias. Exemplo tipico: caso um predio pegue fogo ou entao uma inundacao cause distruiçao, e’ muitissimo comum abrigar desabrigados por um tempo. E o tal acolhimento acaba vindo com um certo tempo, talvez o de se adaptar.
  49. Aqui na França, os franceses deveriam sair das suas proprias fronteiras e dar uma olhada no que se passa no resto do mundo.
  50. Aqui na França, a presença da lingua portuguesa e’ praticamente inexistente. E como ja’ disse, Michel Telo’ nao conta..
  51. Aqui na França, tem um organismo chamado Prefecture de Police. Nem quero falar disso não, não saberia por onde começar...
  52. Aqui na França, os teclados de computador são diferentes do resto do planeta. Não, não é ASDFG como no resto do mundo mas QSDFG. Pior ainda, o ponto e virgula, pouco usado é colocado em voga enquanto para digitar um ponto, há que digitar a flecha caixa alta. Vai entender.
  53. Aqui na França fuma-se muito dentro dos carros. Alias, fuma-se muito em diversos lugares. E todo mundo acha isso normal.
  54. Aqui na França, ninguem escova os dentes depois do almoço. E fio dental não esta’ nos habitos dos franceses. Em contrapartida, a quantidade de gente com dentes clareados e’ impressionante. Assim como o consumo de chicletes.
  55. Aqui na França, agua custa caro. Limpa-se o chão com produtos fortissimos, concentrados e com pouquissima agua. E nao tem ralo. E e’ normal que cozinhas e banheiros nao sejam completamente azulejados.
  56. Aqui na França, os bancos são super atrasados. Primeiro, a era digital levou anos para ser implementada. Segundo, a senha de banco e’ imposta (nao e’ voce que escolhe e nem e’ voce que pode muda-la). Terceiro, os cartoes de debito automatico (carte bleue) levam ao menos tres dias para que o debito funcione. Todo mundo paga com cheques mas nao existe cheques pre-datados. Alias, muitas agencias nao possuem caixa real, o que significa que voce nao pode tirar dinheiro no caixa mas so’ no caixa eletronico. Alias, nessas mesmas agencias depositos em especie nao sao aceitos! E a estrutura bancaria e’ bem descentralizada: nao e’ porque voce e’ cliente do banco X que quando voce estiver na cidade Y eles vao resolver seu problema. Voce e’ cliente de uma agencia. Eventualmente e com um pouco de boa vontade, voce consegue resolver esse seu problema.
  57. Aqui na França, o sistema e’ lento, mas raramente fora do ar. Porem, muitas das vezes, por conta do frio, os cartoes de pagamento nao funcionam e vem uma mensagem do tipo: CARTA MUDA. E carta fala?  
  58. Aqui na França, paga-se uma quantidade enorme de impostos. Sao tantas linhas no holerith que nao da’ nem para querer entender. Voce so’ sabe o quanto voce vai realmente ganhar no teu novo emprego no dia em que o holerith chega.
  59. Aqui na França, a melhor profissao e’ a de funcionario publico. Muitos deles passam horas e horas sem fazer nada. Outros gastam tempo no cafe’. Sem falar nos diversos dias de ferias, muito mais intensos que os que trabalham na iniciativa privada. Mesmo assim, existem varios aspectos do servico publico que revelam uma qualidade extrema. Como por exemplo as ajudas do estado, que e’ extremamente paternalista em diversos aspectos.
  60. Aqui na França, a pizza e’ horrivel. Nao e’ o lugar para comer pizza.
  61. Aqui na França, os chuveiros nao sao eletricos, ha’ banheiras em praticamente todas as casas e essas sao dotadas de uma miniducha do tipo chuveirinho. Ducha daquelas intensas so’ nas salas de esporte e olhe la’. E eles chamam isso de ducha italiana.
  62. Aqui na França, aos 17 anos voce expulsa seus filhos de casa. Nao e’ a toa que a relacao com os pais assim que os guris entram na adolescencia torna se absolutamente explosiva.
  63. Aqui na França existem “n” variedades de batata e de maçãs e de peras tambem. Laranja e’ bem mais limitado.
  64. Aqui na França, telefone e’ super simples. Os codigos de area estao incorporados aos numeros. E tem mais celular do que gente.
  65. Aqui na França, voce e’ bem conciso nas saudações:se e’ formal, e’ Bonjour. Se e’ mais amigo, vai sair um “Salut”, que equivale ao nosso Oi.
  66. Aqui na França, banheiros e cozinhas não tem ralo.
  67. Aqui na França, taxista pertence a classe dos artesoes. Por isso rola greve, rola taxi pirata e rola nao ter taxi para voltar para casa depois da balada. Se for em Paris, e’ ate’ glamouroso. Se for em outro lugar, pior para você.  
  68. Aqui na França, atrasos sao muito mal vistos. 10 minutos no medico sao suficientes para ele passar para outro paciente. Porem, ele pode atrasar.
  69. Aqui na França, e’ legal viver e descobrir. Os franceses podem ser tudo isso mas o que acaba acontecendo e’ que e’ legal viver aqui tambem. Mesmo sendo estrangeiro (ou naturalizado frances), os franceses sabem viver bem, quando querem. E eles nao sabem o que e’ saudade, o que facilita muito quando nao se e’ brasileiro.